É cultural: quando orientamos qualquer paciente sedentário a fazer atividade física, a pergunta que segue é: “então eu devo caminhar, doutor?”.
Sim, sou um entusiasta da caminhada, do desafio dos 10 mil passos por dia, porém a frase que pode parecer pesada, mas verdadeira é:
Existe uma diferença conceitual entre atividade física e exercício físico. Qualquer movimento que exija o mínimo de esforço pode ser considerado atividade física. Porém exercício físico é a prescrição de atividade física com um propósito específico, com dose, intensidade e acompanhamento por um profissional.
No universo dos pacientes com problemas de coração, carregamos o conceito antigo de que o melhor exercício para o coração é o exercício aeróbico. O chamado “Cooper”, aquela pequena corrida diária para benefícios do coração ficou no imaginário popular como o exercício para saúde cardiológica. Entretanto, esse conceito é antigo.
Existe um artigo publicado em 2012 por um grupo da Universidade de Toronto, que avaliou diversos estudos comparando exercícios aeróbicos isolados com a combinação de exercícios resistidos associados a exercícios aeróbicos. Os resultados foram assertivos: pacientes cardiopata que fazem musculação associada a exercícios aeróbicos em seus programas de reabilitação tiveram mais perda de massa gorda (em média 2,3% a menos de gordura), mais ganho de massa magra (em média 0,9kg) e aumento de força muscular em pernas e braços assim como melhora da capacidade funcional que é a quantidade de esforço que a pessoa consegue fazer (medimos isso pelo VO2 que foi em média 0,41ml/kg.min a mais no grupo dos exercícios combinados).
É importante frisar que o paciente com problema de coração não deve fazer exercícios físicos sem a orientação de uma equipe de profissionais, pois é necessário um estudo detalhado de como o coração do paciente e assim receber doses de esforço acompanhadas por um profissional de educação física qualificado.
O principal ponto que trago aqui é que não basta fazer exercícios aeróbicos, ainda mais sem métrica, sem acompanhamento e sem prescrição. É fundamental que a intervenção física no paciente cardiológico tenha dose e métrica e variabilidade de estímulos, ou seja, que possamos quantificar o quanto de esforço esse paciente e variar o tipo de estímulo que ele recebe, assim ele vai ganhar mais massa muscular, perder mais gordura e essa combinação significa ganhar muitos anos de vida com qualidade.
Fontes:
Marzolini S, Oh PI, Brooks D. Effect of combined aerobic and resistance training versus aerobic training alone in individuals with coronary artery disease: a meta-analysis. Eur J Prev Cardiol. 2012;19(1):81-94.
Carvalho T, Milani M, Ferraz AS, Silveira AD, Herdy AH, Hossri CAC, et al. Diretriz Brasileira de Reabilitação Cardiovascular – 2020. Arq Bras Cardiol. 2020; 114(5):943-987.